domingo, 19 de julho de 2009

Os Primeiros Paulistas

Por Roberto Sandoval : rlavodnas@hotmail.com ou rlavodnas@gmail.com

Cap. I – Na Quinta de Valgode

Estamos em Portugal , em plena região de Lafões , na Beira Alta , mais precisamente na Quinta de Valgode , uma aldeia que faz parte da freguesia de Vouzela e que dista uns trinta quilômetros da cidade de Viseu , onde se casaram , no ano de 1474 , João Velho Maldonado e Catarina Afonso , que tiveram , pelo menos , o filho João Belbode Maldonado , nascido por 1490.

João Beldode Maldonado era conhecido por João Ramalho , numa alusão às barbas, bigodes e cabelo arrepiados que usava e naquele tempo, como agora, toda a gente tinha alcunha, e esta tornava-se o verdadeiro nome.

João Ramalho foi casado em Portugal com Catarina Fernandes , porém João Ramalho terá sido condenado por se dar bem e ter negócios com judeus , numa altura em que estes e os que com eles privavam começaram a ser perseguidos ; terá por isso embarcado e sido mandado para longe onde não mais seria uma ameaça para a Fé.
A nau em que viajava terá naufragado e chegado assim a terras de Vera Cruz , numa data que os nossos historiadores situam por 1510.

Cap. II – Em terras de Vera Cruz

A nova existência de João Ramalho desenvolveu-se nos campos de Piratininga , para lá da serra de Paranapiacaba , onde vivia com a índia Potira , nome que na linguagem tupi-guarani quer dizer flor , filha do cacique Tibereçá , o olho-da terra , com quem casou segundo os costumes locais. Nasceram os primeiros caribocas , filhos de português e de índia , e a prole foi crescendo de ano para ano.
Inteligente, trabalhador e empreendedor a sua popularidade e prestígio cresciam incessantemente junto das populações locais.
Só muitos anos depois chegam as primeiras caravelas portuguesas a S. Vicente.
Em 1530, a esquadra de Martim Afonso de Sousa ancorou na barra de Buritioca , perto de S. Vicente onde João Ramalho e sua família foram recebidos, tendo o capelão da esquadra baptizado seus filhos , cinco ou seis e Potira, que recebeu o nome de Isabel. Martim Afonso de Sousa , nessa altura , nomeou João Ramalho como Guarda-Mor dos campos de Piratininga , tendo regressado à Europa em 1533 ; nos vinte anos seguintes São Vicente só seria visitada por piratas franceses e espanhóis.
Em 1549, Tomé de Sousa primeiro governador-geral do Brasil, chegou à Bahia na companhia de muitas famílias , 600 homens de armas , numerosos oficiais de diversas profissões , 400 degredados e seis jesuítas , incluindo o superior da missão, o padre Manuel da Nóbrega.
Em fevereiro de 1553 , desembarcou em São Vicente e , dois meses depois , galgou a Serra , internando-se no planalto. Aí foi recebido por João Ramalho e , em 8 de Abril de 1553 , a povoação foi elevada à categoria de vila , com o nome de Santo André da Borda do Campo , e o vouzelense , que já era Guarda-Mor , passou a ser o seu Alcaide-Mor. A partir desta data , chegaram até nós sob a forma de atas das reuniões da Câmara da vila de Santo André, alguns dados históricos da vida de João Ramalho.
Com a chegada dos jesuítas , João Ramalho mandou construir uma igreja na vila , onde não chegou a entrar por ter sido excomungado por pecado de mancebia , era casado com Catarina Fernandes aos olhos da Igreja.
Este fato levou a um afastamento progressivo entre João e Isabel, convertida pelos jesuítas, tendo esta abandonado a vila para viver com seu pai , Tibereçá na nova vila de Piratininga , a três léguas de distância, onde tinha sido instalado um colégio de jesuítas.
Em 25 de Janeiro , dia da conversão de São Paulo , de 1554 , ao ser celebrada a fundação do novo colégio , era fundada Piratininga , embrião da cidade de São Paulo.
Santo André entrava assim em rápido declínio , pois muitos dos seus habitantes começaram a mudar-se para Piratininga , onde havia portas que se comunicavam com o Céu ; além disso os padres de São Paulo já não iam a Santo André.
Em meados de 1560 , Mem de Sá , terceiro governador-geral do Brasil , a pedido dos jesuítas de Piratininga , mandou uma ordem a João Ramalho para que abandonasse a sua vila e incorporasse a sua gente aos moradores de São Paulo. Essa medida já era esperada , e o que restava da povoação , apressou-se a mudar para a aldeia nascente de Piratininga , para onde tinha sido transferido o foral de vila do primeiro núcleo lusitano do planalto Santo André da Borda do Campo , que só depois disso tomou incremento. Diz a história, que João Ramalho foi o último a partir.
A partir de 1560 , a população de São Paulo começou a ser atacada pelos índios , e face ao perigo eminente , João Ramalho é nomeado Capitão Mor de São Paulo , para defendê-la. A Câmara e o povo aclamam-no e apesar de velho e anteriormente injustiçado, ele aceita.
Em 10 de Julho de 1561, dá-se o ataque de um exército de índios de várias nações , que os piratininganos sob as ordens de João Ramalho e Tibereçá conseguem heroicamente vencer. Este último e Vitorino, filho mais velho de João Ramalho , acabam por falecer na peleja.
O seu nome voltou a ser aclamado pela povoação nascente nos campos de Piratininga, tendo sido eleito vereador da Câmara nas eleições seguintes, cargo que no entanto recusa dizendo-se velho e cansado, e passou a viver afastado da vila.
Amargurado com a lembrança das injustas perseguições a que tinha sido sujeito, e a memória dos entes queridos que já haviam partido João Ramalho sentia-se um sobrevivente no mundo novo que já não era o seu.
Assim em 1580 , resolve voltar a São Paulo para oficializar o seu testamento :

"Aos três dias do mês de Maio de 1580 anos da era de Nosso Senhor Jesus Cristo , perante mim , tabelião, Lourenço Vaz do 1º Ofício de Notas , na presença de Pedro Dias, Juiz Ordinário e de quatro testemunhas , diz João Ramalho, natural de Vouzela, comarca de Viseu , Província da Beira , Portugal, filho de João Velho Maldonado e de Catarina Afonso Belbode , casado na terra com Catarina Fernandes , que já se encontra por estas terras há noventa anos...”

Nos primeiros anos deste século, travaram-se no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e na imprensa daquela cidade brasileira, vivos debates sobre a figura do vouzelense.
A darmos crédito ao seu testamento feito em cartório, perante o escrivão,o juiz ordinário e testemunhas gradas, em livro rubricado por João Soares, ele chegara ao Brasil em 1490, isto é, antes de Cabral, antes mesmo de Colombo ter aportado a Guanaami, nas Antilhas.
Mas esse testamento , polêmico e muito discutido , citado por Pedro Taques e Frei Gaspar da Madre de Deus, assim como por outras pessoas, desapareceu sem deixar maiores vestígios , existem apenas alguns fragmentos dispersos , não sendo reconhecido pela maioria dos historiadores.
Fica para a história como o grande povoador dos campos de Piratininga, que daria origem em 1554 à fundação da cidade de São Paulo.
Como escreveu Tomé de Sousa , primeiro governador-geral do Brasil , ao Rei de Portugal , em 1553 :

“...Johão Ramalho, natural do termo de Coimbra, que Martim Afonso já achou nesta terra, quando cá veyo. Tem tantos filhos, netos, bisnetos e descendentes que ho não ouso dizer a V.A... Não tem cãs na cabeça nem no rosto e anda nove léguas a pé antes do jantar...”.

Cap. III – Dos filhos de João Ramalho

1) Beatriz Dias, que foi casada com Lopo Dias, natural de Portugal;

2) Francisco Ramalho Tamarutaca, que foi casado três vezes, sendo a primeira e terceira com Francisca e Justina, índias;

3) Antônio de Macedo, casado;

4) Vitorino Ramalho, casado, que foi assassinado pelos índios Tupiniquins, nas imediações da Vila de São Paulo;

5) Joana Ramalho , que segue

6) E outros mais...

Cap. IV – Joana Ramalho

Casou-se com Jorge Ferreira , que foi , em 1556, loco tenente do donatário da Capitania de Santo Amaro, pertencente a Martim Afonso, filho de Pedro Lopes de Souza , cujos descendentes seguem através do Blog :

http://capitaesmores.blogspot.com/


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